Diário sociologico da vida independente

Nesse blog você vai encontrar relatos de como é morar sozinho em uma cidade diferente na visão de duas jovens. No auge de sua juventude elas descrevem suas vidas cotidianas através de uma análise sociológica e individual.

sábado, 8 de outubro de 2016

Nosso Encontro

Dia 23 de julho, 2016 - João Pessoa (PB)

Era meu segundo "rolê" em João Pessoa, estávamos no Carboni Bárbaro (bar que, inclusive, está falindo agora). Eu tinha ido com umas amigas, Fernanda, Beatriz e Maria Julia. Daí chegou uma amiga da Fernanda, natural do mesmo estado que ela e que se conheciam por intermédio do irmão da Fer. Ela, Lorena, estava com uma amiga, com quem mora, de nome Laura. De cara me dei bem com a Laura, quase o mesmo mapa astral e enfim, nos demos bem.
Em certo momento chegou um carinha, amigo de uns "amigos" (até então entre aspas, porque não tínhamos tempo de convivência, na época, nem pra sermos colegas.), que não conhecíamos ainda, Luiz Paulo. Luiz Paulo, em um primeiro momento, pareceu um cara muito gente fina, morou na Espanha, participa de uma banda de rock, cursa Direito e arranjou pra gente um Skank (um Skank cara! Hahah) Viramos amigos ali já. Eu bêbada e chapada, ele bêbado e chapado. Primeiro passo pra um "amizade" nem um pouco duradoura.
Do nada, chega um carinha na roda, e começa a conversar com a Lorena. Quando eu ouço o carinha chamando a galera do rolê de "merda", me aproximei para saber do que se tratava. Quando chego, ele está falando para a Lorena: "esse cara ai -apontando para Luiz Paulo- é um merda. Vocês todos são uns merdas". E eu, que não tenho, nem nunca tive paciência para gente escrota, fui bater boca com ele;
Eu: - Lorena, você conhece esse garoto?! ele ta chamando todo mundo de merda?
Lorena: -Não, não conheço.
 Eu: - Quem você pensa que é pra chegar na nossa galera falando assim? Hein seu merda? Merda aqui é você que chega em um lugar onde ninguém te conhece e vem causar problemas. SAI DAQUI!
Dai não lembro mais o que rolou com o carinha porque eu estava bêbada. Só lembro que depois de um tempo ele voltou e foi discutir com Luiz Paulo, e Luiz Paulo sacou um canivete e eu achei aquela situação muito tosca e engraçada. Fernanda ficou meio irritada com a situação e foi meio que "apartar" a briga.
Fomos pra casa da Fernanda, eu deitei na rede, Laura que ate então tinha "parado" de beber e fumar, estava fumando com Luiz Paulo. Eu dormi na rede e não lembro mais de detalhes. Só lembro de acordar de manha cedinho com Luiz Paulo, que tinha acabado de ficar com Laura, gritando porque achava que tinha pisado em um suposto xixi que eu teria feito na rede enquanto dormia, (detalhe: Laura estava namorando até então com José Vitor, que mora em Natal e estava lá nessa noite. Laura traiu José Vitor). A rede estava seca, mas não rola um certeza quanto a origem da "agua" no chão, acho que era cerveja, ou agua.
Assim nos conhecemos. Eu e Lorena.

Nesse dia quem fui eu: A pessoa que arrumou briga com um desconhecido, para defender um outro desconhecido que, depois, nem valia tanto a pena assim.


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Foi meu primeiro final de semana para aproveitar a minha nova morada, seria a primeira vez que quebraria todas as regras de boa conduta de uma garota "de família" (um termo tanto quando vago para mim).
Estávamos sem absolutamente nada pra fazer naquela merda de sábado e eu queria muito conhecer gente nova, aproveitar meu auge de amor próprio e sair colorindo cada canto dessa cidade com as cores do espectro da minha alma. Era quase 22h e eu e minha mais nova amiga Rita, com a qual divido apartamento, estávamos entediadas, cada uma no seu quarto fazendo algo para ocupar a mente. Eu começava ali a tentar fazer a boa aluna na nova faculdade e tentei ler O príncipe de Maquiavel para que na aula da próxima segunda-feira eu pudesse discutir fodásticamente bem com a professora de política, no entanto, com o perdão da palavra, eu estava pouco me fodendo pra leitura rigorosa em pleno sábado, eu queria conhecer essa cidade maravilhosa, queria ver como eram os rostos, os jeitos, os sotaques e se era muito diferente daquilo que eu, como paulista do interior, via em minha cidade.
Alguns minutos depois, recebo uma mensagem da minha amiga, conterrânea, Martina - que também está vivendo em João Pessoa e cursando a faculdade estadual daqui - no WhatsApp ela me pergunta o que estávamos fazendo e se não gostaríamos de sair naquela tediosa, porém linda e favorável noite. De praxe respondi que não sabia se iríamos, pois achava que estava muito tarde para duas mulheres saírem e se aventurarem numa cidade nova e totalmente desconhecida. Nem vou entrar no assunto do quanto ouvimos para nos resguardarmos aqui nessa cidade, parecia que estava me mudando pra casa do caralho, num pântano cheio de ogros malditos estupradores e assaltantes de estudantes. Enfim, dei um foda-se nisso e encorajei minha amiga, Rita, a saírmos. Ela se animou muito e ai começamos a nos arrumar, e foi aquela empolgação incrível! Senti minha jovialidade a flor da pele, confesso!
Eu estava me sentindo linda, e inclusive muito sensual, e eu sabia disso, eu só precisava jogar isso pro mundo, todos precisavam sentir o quanto eu me senti independente e foda por ter tomado aquela atitude naquela hora da noite. Eu não fazia ideia nem de como chegaríamos até lá, mas não tava me importando, eu estava precisando me aventurar, mesmo com meu superego quase me engolindo, me avisando pra tomar cuidado, e toda aquela coisa de uma menina cheia de medos e que pensava sempre o que os pais fariam se eles estivessem lá - nunca teriam deixado-. Mas enfim, estava livre e dona de mim, apesar de não ter caído na real cem por cento ainda, eu estava pronta pro embate! hahaha
Saímos de casa, já era meia noite, Rita pegou uma pedra de calçada pro caso de precisarmos usar - vai que um doido aparecesse bem naquela hora. Deu um medo do caralho, mas tudo bem, a gente tinha uma pedra colossal pra usar. - Ficamos pensando: porra e agora?! Como vamos nesse lugar?! Não sabemos onde é ao certo e muito menos que ônibus pegar pra sair lá.
De frente pra avenida principal da cidade universitária, nos vimos perdidas e com um pouco de medo, até que de repente passa um táxi e ai foi a deixa... "chama essa merda, porque a gente vai assim e não quero saber!"
Quando entramos no táxi, o taxista não acreditava o que duas meninas estavam fazendo sozinhas naquele lugar perigoso e dando sopa. só queria frizar que o cagaço era tanto que entramos com a pedra dentro do carro hahahahaaha
Enfim, ele nos deixou lá no famoso Carboni, um bar underground de João Pessoa. Quando chegamos por lá estava minha amiga Martina, com seus lindos cabelos coloridos, e suas amigas: Isabela, Carla e Larissa. Já conhecia a Carla, de uma saída que tomamos açaí juntas. Isabela aparentou ser uma menina muito quieta e eu tinha certeza que tinha fumado maconha, porque ela estava muito voadinha, mas com as conversas senti que era uma pessoa muito meiga e amável, logo descobri que era pisciana como eu, ai eu entendi porque achei que ela estava brisando tanto.
A primeira vez que vi Larissa, com blusinha preta bem decotada e uma sainha curta branca, pensei que era uma baita hétero, piriguete mesmo. Sim, já comecei a noite estereotipando as pessoas, e parei e comecei a me policiar ali mesmo.
Me entreguei às conversas, os papos ficaram muito interessantes entre nós. Abrimos uma rodinha pra falar dos nossos signos quando chega um cara branquelo com sotaque bem marcado e esquisito, era até simpático, um tal de Bruno. Ele entrosou na nossa conversa e começou a falar sobre maconha, e eu confesso que ai comecei a achar meio tenso, afinal não bebo nada alcoólico e muito menos fumo. Nessa hora caiu a ficha e pensei: "o que caralhos eu to fazendo aqui nessa merda?!"
Me policiei de novo, afinal, eu teria que me acostumar com a palavra e o objeto maconha.
Caralho, percebe que isso é muito forte pra uma moça como eu? Aquilo faria parte do meu cotidiano...
As meninas estavam bebendo bastante, até que abrimos mais uma vez a rodinha, agora longe do menino do sotaque esquisito, e começamos a falar de como sermos superiores aos machos, e ai foi a primeira vez que ouvi a Larissa falar de empoderamento feminino, bêbada, já gostei ai, mesmo a menina estando bêbada as hell.
Descobri que essa maledeta tinha 17 anos e fiquei inconformada. Ela toda alta, com presença de espírito, já vi de cara que era inteligente a bixinha, com seus cabelos com cachos cheios de vida e cheirosos. Senti necessidade de ser amiga.
Conversamos muito entre as meninas, até que chegou um cara muito chapado pra tocar ideia comigo e cara, eu não tenho saco pra machistinha boçal e bêbado. Foi meu primeiro esculacho em machinho em João Pessoa. Ele começou a chamar todo mundo de merda, do nada, e ai a Larissa ouviu ele xingando o Bruno de merda também, e ai começou a discutir com o cara, tentei falar pra ela que ele estava chapado e não sabia o que ele estava falando, mas ela não parava e botou pra quebrar! Senti ai que ela era do coletivo.
Estava ficando tarde, perto das 3h da manhã, e decidimos todos dormir no apartamento da nossa amiga Martina.
Fomos a pé até lá e ela ficou conversando muito com a minha amiga Rita, se entenderam porque tinham o mesmo signo e coisas em comum.
Chegando no apartamento cada um se posicionou por lá, fumaram maconha adoidado e beberam muito. Cara, confesso que fiquei incomodada, eu odeio cheiro de maconha.
Larissa colocou uma camisola que sabe lá deus da onde ela tirou aquilo e deitou na rede, bem chapada.
Começamos a falar sobre sexo, porque claro, sempre tudo cai em sexo... Descubro altas coisas e que a Larissa era lésbica. Me surpreendi ai, quebrei a cara na hora por ter pensado que ela era piriguete hetero normativa. hahahaha
Aproveitei o embalo e disse que eu era bissexual, e ai pronto, suficiente pra ouvir "por que vocês não se pegam?!". Naquele momento eu pensei: "porra, quero". Mas ai eu sabia que ela estava sem condições de fazer nada. Logo ela dormiu e morreu de roncar. hahahahaha
Fui dormir também nesse dia, enquanto minha amiga Rita ficou na varando fumando maconha e conversando com o branquelo esquisito.
Acordei umas sete horas com esse babaca assoprando uma garrafa na porta do quarto e resolvemos ir embora pra casa, pois os ônibus passavam a circular normalmente de manhã e poderíamos aproveitar.
No ônibus, minha amiga disse que tinha passado a noite se pegando com o cara. Fiquei com nojinho, mas respeitei. Ela namorava um cara da cidade natal dela, mas estava cansada da mesmice do relacionamento e super entendi e apoiei.
Logo que chegamos em casa fui dormir porque eu tava sem condições de ser exercer atitude de ser humano.
Essa foi minha primeira noite cheia de experiências e novidades por terras novas.
Assim nos conhecemos, eu e Larissa.

Nesse dia quem fui eu: uma mulher nova, cheia de energia e com a sensualidade a flor da pele. Espírito de aventura, querendo me provar a todo instante como "a independente" e capaz.


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Análise sociológica:
Visões totalmente estereotipadas, por estarem as duas imersas em um ambiente novo e hostil. Observa-se no segundo texto que o "novo" ali, não foi visto com receptividade total. E que as experiências vividas anteriormente pelas duas mostram muito sobre como cada uma lidou com a mesma situação, ficou muito marcada a forma como cada uma foi criada por suas respectivas famílias e isso fica claro, inclusive, na maneira como elas descreveram os acontecimentos. Como diria Karl Marx ( e ai, quem convive com as duas meninas, sabe qual das duas escolheu a citação e qual das duas esta digitando isto aqui em terceira pessoa), "o homem é produto do meio" e por isso fica tão clara as influencias familiares e culturais de cada uma.